segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Julia Rocha, médica ! MEDICINA DE FAMÍLIA E COMUNIDADE

Ler este relato da jovem médica residente (PROGRAMA MEDICINA DE FAMÍLIA) e não se emocional é difícil!
Imagine a situação e a dificuldade das pessoas ao  acesso de um DIREITO, à saúde!
Saúde, Direito de Todos? No Brasil? Só por um milagre como este!

Leia o relato da doutora Julia:

Daí, que um paciente de 57 anos entra no consultório de cabeça baixa e me conta que há 5 meses vem perambulando de médico em médico no seu convênio sem solução do seu problema:
Paciente:
"Eu fico pensando, em casa, nas coisas que eu quero falar para o médico mas, quando chega a hora da consulta, não dá tempo. O médico me pediu exame sem me examinar e disse que o que eu tenho é pedra nos rins. Disse que eu tenho que operar, me deu um remédio pra dor e pediu mais exames."
Eu:
"E por que o senhor não falou o que precisava falar?"
"Fico sem jeito por que esse negócio de dinheiro é complicado. Ele precisa chamar mais gente, né. Eu não posso tomar muito do tempo dele."
"Então, hoje, eu quero que o senhor fale tudo que o senhor pensou em casa. Pode ser?"
"Estou emagrecendo muito e sentido muita dor na barriga (...)" queixou-se ainda de sintomas urinários.
Examinando... uma tristeza atrás da outra. Massa abdominal dura feito pedra e um fígado enorme... Emagrecimento de 17 quilos nos últimos 4 meses, sem ter feito esforço para isso. Pra quem não é médico, um paciente consumido, provavelmente, por câncer.
E o pior ainda está por vir:
Depois de 25 minutos de consulta, VINTE E CINCO MINUTOS, orientações feitas, exames pedidos com prioridade máxima, estendo minha mão e digo: "Temos um caminho longo pela frente, mas estaremos juntos, certo?!"
E ele me respondeu: "Esta foi a consulta mais longa da minha vida. E se eu passar ao seu lado na rua, você vai me reconhecer, né. Por que você olhou no meu rosto o tempo todo. Isso é legal... (olhos marejados - e eu tb). Doutora, ninguém nunca examinou minha barriga. Muito obrigado!"
E eu pensei: "Eu que te agradeço..." Ele saiu, eu fechei a porta, chorei 3 minutinhos (pensando na minha vida) e chamei o próximo.
E viva a MEDICINA DE FAMÍLIA E COMUNIDADE que me ensinou que posso chorar, só um pouquinho, levantar a cabeça e chamar o próximo. Sempre haverá o próximo. E desta vez, o próximo era uma criança linda e saudável! 

Amém!


Em tempo: isso foi um desabafo... faço isso, as vezes, pra não ficar doente. Não é uma crítica a nenhum colega em especial. Mas dá pra ver que grande parte da tecnologia que precisamos pra ajudar nossos pacientes está em nós. Mãos, ouvidos, olhos... Viemos com tudo isso de fábrica.
RADIS 147/2014- Facebook

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