A criança pode sofrer a primeira
DENGUE (DEN 1), ainda no útero materno, se a mãe for infectada durante a
gestação; e, essa criança poderá ser reifectada novamente aos 04 anos. Isso
ocorre com facilidade devido à presença do inseto vetor, sem o efetivo
controle.
imunidade temporária
Existe uma “imunidade
temporária”, que envolve um período de 04 anos, entre uma dengue e outra. Essa
dengue sofrida inicialmente pode ter uma evolução normal se a mãe for tratada
de forma adequada, mas isto não impede que a agressão viral cause alguns danos
ao bebê, mesmo de forma inaparente, pois o vírus estará sofrendo replicações
nos órgãos internos, nos capilares sanguíneos do fígado, pulmão, e com
manifestações neurológicas importantes: “A sintomatologia do dengue depende da
forma clínica, podendo variar de cefaleia a ampla gama de manifestações
neurológicas (..)
.A fisiopatologia das
complicações neurológicas do dengue: edema cerebral, hemorragia cerebral,
hiponatremia, falência hepática fulminante com encefalopatia porto-sistêmica,
anóxia cerebral, hemorragia micro capilar. A infecção do sistema nervoso
central (SNC) pelo dengue requer o conhecimento das hipóteses de infecção viral
sistêmica: a teoria da infecção sequencial, desenvolvida por Halstead (...)”
cita a drª. Maria Lúcia Brito Ferreira, neurologista chefe do Serviço de
Neurologia do Hospital da Restauração, Recife-PE.
Como o desconhecimento nesta área
é grande, em função da subnotificação e outros fatores, tais como o que critica
o professor Maulori Curie Cabral, do Departamento de Virologia do Instituto de
Microbiologia da UFRJ, sobre a “ausência da Virologia no currículo das escolas
de medicina do país”. Segundo ele, “das 140 escolas de medicina apenas 17 têm a
disciplina, e, destas, apenas 05 oferecem aulas práticas”. Isso explica as
dúvidas e os erros que envolvem o enfoque desta patologia.
No caso atual do Rio de Janeiro,
o alto índice de óbitos de crianças sinaliza este fator, que, se observado
atentamente o vírus detectado, este apresentará características de DEN 2 em
crianças até os sete anos; de 08 anos acima, poderá apresentar na sorologia,
DEN 3.
não se trata de um vírus
diferente...
... e, sim, sucessivas infecções
sofridas pela criança. “O teste de HI pode diferenciar a resposta primária, que
é relativamente mono específica e se caracteriza por títulos menores que
1:1280, da resposta secundária, com títulos superiores a 1:2560, segundo os
parâmetros da OMS”
“confusão viral”
As primeiras epidemias ocorridas
no Brasil dão uma visão clara:
Hoje, com a presença contínua do
mosquito, as epidemias continuam com o mesmo intervalo de 04 anos atingindo a
população, mas sem espaço vazio de casos entre um ano e outro, pois novos
infectados (pessoas que migraram para área de maior risco ou crianças que
nascem a cada ano) vêm surgindo:
“Com o ressurgimento do mosquito,
novamente detectado em 1967, deu-se início a uma nova onda de epidemias
começando em 1980 com oito casos em Roraima. Quatro anos mais tarde,1986/1987,
o dengue assolou o Rio de Janeiro, com mais de 95.000 casos notificados e a
partir daí espalhou-se para as regiões Nordeste e Centro-Oeste.Em abril de 1990
um novo surto se inicia no Rio de Janeiro, e pela primeira vez é isolado o
sorotipo 2”. (DENGUE: NOVAS MANIFESTAÇÕES DE UMA VELHA DOENÇA, Revista Médica
vol.37 nº. 2)
“olhos para ver”...
Recordo, durante o curso de
Especialização em Entomologia Médica, na FIOCRUZ, as palavras do professor Dr.
Nicolau Maués Serra-Freire, que o pesquisador deve manter os olhos (e os
ouvidos) bem atentos, para observar e detectar fatos que poderiam passar
despercebidos. Lamentavelmente, poucos gostam de ler!
E para quem deseja pesquisar, a
leitura é fundamental...
No enfoque acima, fica claro o
intervalo de 04 anos entre uma epidemia e outra e a detecção do vírus DEN 2 não
é um “novo vírus que invadiu o País” mas, sim, pessoas sofrendo uma segunda
infecção, e, entre estas, as crianças com seu organismo já bastante agredido
pela dengue anteriormente sofrida.
falha no sistema de vigilância
epidemiológica
Após uma epidemia, é evidente que
ocorre uma redução de casos, pois todos os que se encontravam susceptíveis
foram infectados, mas a VIGILÂNCIA divulga na mídia que, “devido a pronta ação,
o percentual cai 90%”, o que não é verdade!
O correto seria percentual ZERO
de casos!
O mais grave, porém, é
percebermos que pessoas que estão frente a coordenações e grupos de pesquisa
buscarem soluções mágicas para a dengue, que vão desde novos larvicidas
(ineficientes diante da proporção de mosquitos que se reproduzem
assustadoramente), armadilhas e outros artefatos interessantes para a pesquisa,
mas não para combater uma epidemia...
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