Li e gostei muito do
artigo do Dr. Helder e estou publicando no site pela importância e coerência do
relato. Se todos fizessem o que deve ser feito em relação aos insetos vetores
certamente o Brasil não estaria na situação que está...
A situação, no Brasil, não muda nunca... Apenas EVOLUI... Para pior! E agora, com a proximidade dos Jogos da COPA DO MUNDO fico refletindo: Cuiabá-MT., o Rio de Janeiro-RJ., vão esconder os casos (e os mosquitos) onde????
Cada visitante levará como "souvenir" uma DENGUE de recordação???
Beatriz
Batalha Perdida
Autor: HELDER ANTÔNIO
AGOSTINI DE MATOS
No início da década de
90 retornei ao Rio de Janeiro, após uma jornada profissional na Amazônia, onde
trabalhei em uma bem-sucedida iniciativa de controle de malária no então
incipiente campo de petróleo do Rio Urucu.
Uma das
particularidades desse trabalho foi viabilizar infra-estrutura médico-sanitária
para desenvolvimento de ações no interior da floresta, em região antes
inabitada, repleta de mosquitos.
No que diz respeito à
malária, o desafio foi inimaginável: desde a descrença absoluta das autoridades
regionais em qualquer forma de sucesso no seu controle até a inexistência de
modelo local compatível com o empreendimento. Recrutamos e treinamos pessoal,
conveniados com a então SUCAM.
Não havia como
controlar vetores buscando apenas ou sequer imaginando buscar criadouros de
insetos! Os rios amazônicos mudam de curso anualmente, deixam lagos imensos em
áreas alagadas após retornarem de suas cheias, sem contar na imensidão de
árvores gigantescas que podem abrigar uma infinidade de pequenas poças...
Ora, o Rio de Janeiro e
o país estão se confrontando com casos de dengue e infestação pelo vetor,
imbatível, desde aquela época! Surpreendeu-me que por aqui se estivesse
valorizando tanto a busca de criadouros e se combatesse de forma tão débil o
vetor adulto...
Ao longo de mais de uma
década tenho observado esse paradoxo e as manchetes sobre a dengue falam por
si.
Não preciso dizer mais
nada, além da constatação, ao me encontrar hoje com um profissional de saúde,
agora em seu segundo episódio de dengue, com manifestações hemorrágicas: apesar
do sucesso com uso de fumacê por aqui, em décadas e situações anteriores, o Rio
e nossas cidades estão menosprezando aquilo que a Amazônia nos forçou a fazer a
partir de incertezas diante de sua vastidão, já que a borrifação de inseticidas
não teria como cobrir todo o campo operacional de maneira lógica e racional.
Duas décadas do modelo
atual de controle do Aedes demonstram que "algo mais" merece ser
feito! Já ouvi em congresso que o tamanho da gotícula dos borrifadores era um
empecilho para seu melhor uso nesta cidade, lá longe, no início dos anos 90!
Isso quando já os usávamos com pleno sucesso nas estradas e nos acampamentos em
terra batida do Urucu, nos finais de tarde morna e úmida, permitindo que
milhares ali trabalhassem e vivessem sem qualquer episódio de contaminação!
Encerro com profunda
tristeza, semelhante àquela que vivi quando me deparei com servidores
contratados para controle de vetores, acampados na Cinelândia, reivindicando
readmissão nos quadros da FUNASA, pouco antes de mais uma escandalosa epidemia
de dengue, ao longo dos anos 90, fruto do descaso de então para com esta que já
se impõe como eterna vergonha da saúde pública em nosso país.
Por favor, não queiram
me convencer que o modelo atual é eficiente, que não temos outra alternativa,
sem também atacar os insetos adultos... Isso requer estratégias, gastos, dirão
alguns, mas por que ainda não fazemos? Vamos continuar assistindo a manchetes
diárias com mortes e aumento do número de casos por mais quantas vezes e
décadas?
HELDER ANTÔNIO AGOSTINI DE MATOS é médico.
O GLOBO – OPINIÃO – segunda-feira, 04/02/2008, p. 7
E-mail: helderantonioagostinidematos@yahoo.com.br
2 comentários:
A batalha parece perdida para as próximas gerações.Há pessoas que pensam que o nosso futuro é tão grande que não cabe no abismo.Há quanto tempo se ouve isso?
A batalha parece perdida para as próximas gerações.Há pessoas que pensam que o nosso futuro é tão grande que não cabe no abismo.Há quanto tempo se ouve isso?
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