quarta-feira, 13 de maio de 2009

CUIDADO! “VIROSE” PODE SER DENGUE

Outro agravante detectado para a subnotificação e a desinformação em nossa cidade (e país), é um especialista que tem um diagnóstico na ponta da língua. Veja o diálogo a seguir, registrado num dos mutirões da dengue. Em bairro de nossa cidade, conversei com algumas pessoas e, a pergunta que fiz, foi simples e básica:
--A senhora já teve DENGUE?
--NÃO! – Negativa feita rapidamente.
--Alguém de sua família teve?
--NÃO!!! – Sempre uma resposta negativa...
Mas, ao perguntar:
--E virose?
- Ah, sim! O médico disse que eu estava com virose... meu marido e meu filho estiveram com virose no inicio do mês...
E assim tem sido com cada pessoa que já entrevistei.
Este especialista, o chamado “Dr. Virose”, lamentavelmente está por aí diagnosticando “virose” para toda e qualquer etiologia febril. Sem exames ou investigação mais aprofundada, rabisca uma receita de Paracetamol (Tyllenol) e dá por terminada a consulta, sem solicitar sequer um hemograma...
Também tem sido atestado como “virose” a Leishmaniose. O que é um equívoco gravíssimo, pois tal patologia não é de origem viral, já que se trata de um protozoário da família Tripanosomatidae. E a demora na identificação da doença pode colocar a vida do paciente em risco.

A falta de exames específicos gera subnotificação e, pior: com isto ocorre uma redução no repasse das verbas ao município. Essa perda é ruim para nossa cidade. E a perda maior quem sofre é a população, pois existe a doença camuflada como “virose inespecífica”, superlotando o Pronto Atendimento, que, numa sistemática gerencial equivocada fica com menor verba para cuidar da sua saúde.
Sabe-se, a cada ano, que muitas pessoas tiveram Dengue e a falta de comprovação laboratorial omite números ao Ministério da Saúde (MS), Organização Pan Americana de Saúdes (OPAS) e Organização Mundial de Saúde (OMS). A desinformação existente fez com que eu, há 16 anos, recém chegada ao Mato Grosso, ao sofrer a 1ª Dengue aceitasse a explicação de que “não adiantaria fazer o exame, pois até que o mesmo ficasse pronto eu já estaria bem”..
O médico DEVE solicitar as sorologias necessárias, bem como o isolamento viral, para identificar se o paciente está passando sua 1ª, 2ª ou 3ª Dengue, mesmo que demore até 03 meses (absurdo!) para ficar pronto o exame.
Ter este resultado é importante devido às seqüenciais epidemias que ocorrem em nosso estado (e no Brasil todo), até mesmo para auxiliar o atendimento médico em caso de evolução hemorrágica.
Sempre é importante recordar que o inseto vetor da Leishmaniose está envolvido em outra letal infecção bacteriana, a Bartonella bacilliformis ou febre de La Oroya, uma doença típica da região dos Andes, na província de Madre de Diós, que faz fronteira com o Brasil. (Anna Paula Buchalla e Giuliana Bergamo-TERRA É O PARAÍSO) e poderá rapidamente estar entre nós, matando!
E é bom repetir que as ações até hoje realizadas se revelam ineficientes, pois não eliminam os vetores, se fazendo necessária uma URGENTE revisão dos conceitos, que determine a mudança do atual modelo de controle, caso contrário epidemias se sucederão, uma após outra e o número de óbitos será bastante elevado.
A principal mudança deverá ocorrer em relação aos inseticidas utilizados, que, além de ineficazes são inadequados e, em não funcionando, deixam prosperar a justificativa errada de “que o inseto adquiriu resistência”!!!
O enfoque dado pelo sistema de Vigilância Epidemiológica brasileira deixa muito a desejar e o aumento dos números de casos comprovam isto (sejam eles de Dengue, Leishmaniose, Malária, Esquistossomose, Chagas). Se o modelo atual está errado por que continuar com ele?
Faz-se urgente uma revisão nos inseticidas utilizados nesses últimos anos bem como se corrigir o erro de aplicações eventuais, aleatoriamente, sem a continuidade exigida.
A desculpa usada é a de que “o inseto adquiriu resistência” e isto mostra o descaso, a irresponsabilidade de quem está à frente das ações (MS), que nem pára para pensar, pois já deveriam ter ocorrido mudanças de procedimento frente aos números de infectados anualmente, com as epidemias se intercalando.
“Nesta perspectiva, nossa preocupação volta-se não apenas para a manifestação dos casos de doenças, mas, principalmente, para os contextos de vida, aos ambientes e aos mecanismos pelos quais se reproduzem e são renegociados constantemente os processos endêmico-epidêmicos. (Rosely Magalhães de Oliveira). Cad. Saúde Pública vol.14 supl.2 1998
“O interesse volta-se menos para as causas das doenças e mais para os processos e os efeitos desencadeadores dos problemas de saúde” a partir daí podemos analisar, no caso da leishmaniose, o porquê da eliminação dos cães e não dos mosquitos: Ai reside um grande equívoco em que persistindo irá ter proporções inimagináveis. Sempre pergunto: e quando se eliminar o último cão se irá eliminar os animais silvestres e, depois? Muitas pessoas estão infectadas... Serão os próximos?

Definições:
“Endemia”: O dicionário define como doença própria de uma região, que se manifesta constantemente.
“Epidemia”: Doença contagiosa que atinge rapidamente pessoas de uma região.
“Epizootia”: Doença que atinge, ao mesmo tempo, um grande número de animais de um mesmo lugar.
“Protozoário”: qualquer animal unicelular. Ex: Amebas.
“Vírus”: Agente infeccioso, microscópico, causador de várias doenças (AIDS, gripe...) e provoca produção de anticorpos, para combater os antígenos invasores.
É permitida a utilização parcial ou total desde que citada autoria e fonte.

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