Série Doenças Negligenciadas
Cada um tem um jeito de agir, de ser... No meu caso, ao vir residir no Mato Grosso, em meio a uma epidemia de Dengue, que sequer eu sabia o que era ou como acontecia se era transmitida por vetor ou o quê, pois bem, a cidade toda estava doente, com Dengue e é evidente que tivemos a patologia também!
Percebi que pouco se sabia sobre a doença, falavam em ‘febrão’ e os médicos declaravam ser ‘uma virose’... Ocorreram óbitos mal esclarecidos, tanto que alguns atestados de óbito, o Ministério da Saúde questionou e pediu que fossem refeitos, com a causa da morte corretamente preenchida!
Esta epidemia ocorreu, envolvendo 1993/1994. Já em 1995 e 1996 surgiram alguns casos novos, mas em menor número. Estes são os chamados ‘surtos’. Tive Dengue. A cefaléia (dor de cabeça), dores no corpo todo,mal estar indescritível, febre alta,medo...
QUATRO ANOS DEPOIS...
Já em 1997 ocorreram vários casos (início da epidemia) para então em 1998, uma nova e explosiva epidemia, veemente negada pela Saúde Pública... Muitos casos e alguns óbitos. Tive Dengue novamente... Estava sozinha em casa, e me senti tão mal que não tive condições de ir ao médico, precisei de uma ambulância. Felizmente o médico que me atendeu foi eficiente, suspeitou que fosse Dengue, solicitou um hemograma para controle das plaquetas (e estavam baixando) quis me internar, não aceitei, após a medicação e hidratação, voltei para casa, para muito lentamente melhorar, sendo a 2ª Dengue não houve evolução para a Dengue Hemorrágica graças ao médico, que sabia exatamente do que se tratava e medicou corretamente.
Já estava pesquisando sobre a dengue e decidida a estudar, gostaria de aprender sobre o vetor, sobre o vírus e a patologia, prestei vestibular na UFMT e passei (Ciências Físicas e Biológicas). Nunca mais parei de estudar tudo sobre a Dengue embora a literatura fosse bastante reduzida, no final do curso, já estava inscrita na FIOCRUZ, onde participei do curso Entomologia Médica.
Foi fácil? Não! Mas isso não importa. Ainda hoje o problema continua. A população sofre com a doença, o descaso de quem coordena a Saúde Pública, tanto no governo federal, estadual ou municipal. Não existe interesse real em eliminar o vetor ou acabar com a Dengue...
Para não melindrar certas ‘autoridades da saúde’ direi que, devido a velhos e repetidos equívocos, as epidemias se sucedem, a cada quatro anos, e sempre surgem novos casos entre uma epidemia e outra. Mortes? Houve muitas. Subnotificação? Muito grande. A não realização das sorologias ou isolamento viral, importantes para o paciente e para comprovar dados estatísticos é um fator que comprova o descaso e desinteresse...
Milhares de pessoas são infectadas em epidemias e muitos perdem a vida, bebês, crianças, adultos e idosos. A dengue, uma das dez principais doenças negligenciadas, lota hospitais, e pronto atendimentos, onde pessoas passando mal, com muito medo, recebem atendimento depois de longa e angustiante espera.
Segundo informa a Agência Brasil, houve no Brasil mais de 737 mil casos de dengue em 2010! E em 2009, 335.265 casos.
E a conta correta é assim 2009: 335.265 casos
2010: + 737.756 casos
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1.073.021 pessoas infectadas.
Então, Hum milhão e setenta e três mil e vinte e uma pessoas tiveram dengue durante esta epidemia!
Estes dados se referem a 07 estados brasileiros: Acre, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, e São Paulo.
ATENÇÃO MÉDICA EFICIENTE
Acompanhei, no PSF do Bairro Marechal Rondon, o trabalho do jovem médico, doutor Rodolfo, sua atenção e dedicação aos pacientes que chegavam (vários ao mesmo tempo), ficando difícil avaliar quem deveria ser atendido primeiro, muitos apresentando sintomas hemorrágicos. O atendimento, a avaliação do quadro e a rápida intervenção do médico, o trabalho e a dedicação da enfermeira Vera, do José, o paciente permanecia algumas horas no PSF sob os cuidados da equipe, sendo monitorado, hidratado.
Havendo necessidade de internação, o médico imediatamente entrava em contato e fazia o encaminhamento, a solicitação dos exames necessários! E não esquecia o paciente. Buscava a informação sobre a evolução. O doutor Rodolfo não perdeu nenhum paciente para Dengue! Isto demonstra que, já que não conseguem matar o mosquitinho, pelo menos que alguém se preocupe e faça sua parte bem feita!
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