domingo, 18 de julho de 2010

QUANDO NÃO EXISTE INTERESSE EM ACABAR COM UM PROBLEMA...

Série Doenças Negligenciadas


Cada um tem um jeito de agir, de ser... No meu caso, ao vir residir no Mato Grosso, em meio a uma epidemia de Dengue, que sequer eu sabia o que era ou como acontecia se era transmitida por vetor ou o quê, pois bem, a cidade toda estava doente, com Dengue e é evidente que tivemos a patologia também!


Percebi que pouco se sabia sobre a doença, falavam em ‘febrão’ e os médicos declaravam ser ‘uma virose’... Ocorreram óbitos mal esclarecidos, tanto que alguns atestados de óbito, o Ministério da Saúde questionou e pediu que fossem refeitos, com a causa da morte corretamente preenchida!

Esta epidemia ocorreu, envolvendo 1993/1994. Já em 1995 e 1996 surgiram alguns casos novos, mas em menor número. Estes são os chamados ‘surtos’. Tive Dengue. A cefaléia (dor de cabeça), dores no corpo todo,mal estar indescritível, febre alta,medo...

QUATRO ANOS DEPOIS...

Já em 1997 ocorreram vários casos (início da epidemia) para então em 1998, uma nova e explosiva epidemia, veemente negada pela Saúde Pública... Muitos casos e alguns óbitos. Tive Dengue novamente... Estava sozinha em casa, e me senti tão mal que não tive condições de ir ao médico, precisei de uma ambulância. Felizmente o médico que me atendeu foi eficiente, suspeitou que fosse Dengue, solicitou um hemograma para controle das plaquetas (e estavam baixando) quis me internar, não aceitei, após a medicação e hidratação, voltei para casa, para muito lentamente melhorar, sendo a 2ª Dengue não houve evolução para a Dengue Hemorrágica graças ao médico, que sabia exatamente do que se tratava e medicou corretamente.

Já estava pesquisando sobre a dengue e decidida a estudar, gostaria de aprender sobre o vetor, sobre o vírus e a patologia, prestei vestibular na UFMT e passei (Ciências Físicas e Biológicas). Nunca mais parei de estudar tudo sobre a Dengue embora a literatura fosse bastante reduzida, no final do curso, já estava inscrita na FIOCRUZ, onde participei do curso Entomologia Médica.

Foi fácil? Não! Mas isso não importa. Ainda hoje o problema continua. A população sofre com a doença, o descaso de quem coordena a Saúde Pública, tanto no governo federal, estadual ou municipal. Não existe interesse real em eliminar o vetor ou acabar com a Dengue...

Para não melindrar certas ‘autoridades da saúde’ direi que, devido a velhos e repetidos equívocos, as epidemias se sucedem, a cada quatro anos, e sempre surgem novos casos entre uma epidemia e outra. Mortes? Houve muitas. Subnotificação? Muito grande. A não realização das sorologias ou isolamento viral, importantes para o paciente e para comprovar dados estatísticos é um fator que comprova o descaso e desinteresse...

Milhares de pessoas são infectadas em epidemias e muitos perdem a vida, bebês, crianças, adultos e idosos. A dengue, uma das dez principais doenças negligenciadas, lota hospitais, e pronto atendimentos, onde pessoas passando mal, com muito medo, recebem atendimento depois de longa e angustiante espera.

Segundo informa a Agência Brasil, houve no Brasil mais de 737 mil casos de dengue em 2010! E em 2009, 335.265 casos.

E a conta correta é assim 2009: 335.265 casos

                                    2010: + 737.756 casos

                                               __________

                                              1.073.021 pessoas infectadas.

Então, Hum milhão e setenta e três mil e vinte e uma pessoas tiveram dengue durante esta epidemia!

Estes dados se referem a 07 estados brasileiros: Acre, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, e São Paulo.

ATENÇÃO MÉDICA EFICIENTE

Acompanhei, no PSF do Bairro Marechal Rondon, o trabalho do jovem médico, doutor Rodolfo, sua atenção e dedicação aos pacientes que chegavam (vários ao mesmo tempo), ficando difícil avaliar quem deveria ser atendido primeiro, muitos apresentando sintomas hemorrágicos. O atendimento, a avaliação do quadro e a rápida intervenção do médico, o trabalho e a dedicação da enfermeira Vera, do José, o paciente permanecia algumas horas no PSF sob os cuidados da equipe, sendo monitorado, hidratado.

Havendo necessidade de internação, o médico imediatamente entrava em contato e fazia o encaminhamento, a solicitação dos exames necessários! E não esquecia o paciente. Buscava a informação sobre a evolução. O doutor Rodolfo não perdeu nenhum paciente para Dengue! Isto demonstra que, já que não conseguem matar o mosquitinho, pelo menos que alguém se preocupe e faça sua parte bem feita!

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